07 September, 2013

GAROA



pela janela do trem
observo a garoa,
recordação distante de mim mesmo;
do quanto estou só e ninguém sabe,
do quanto eu já chorei e ninguém notou...

eu sempre levava comigo essa culpa:
não saber amar como os gregos amavam a sabedoria,
hoje eu sei (e isso aprendi olhando a garoa)
que saber amar é paz madura
e eu ainda preciso me despojar
para chegar até mim mesmo,
no esmo da noite ou do dia.

eis que meu peito silencia
quando constato essa etapa em que me encontro
sirvo-me do amor e da procura
e aguardo, passivamente, a tempestade...
possivelmente ela virá
em minhas lembranças ou sobre as retinas,
sobre as úmidas retinas
do espelho, que reproduzem a miragem desse amor,
desse amor triste e condicional
(como certos tipos de liberdade segundo a justiça)

e eis que vejo pensando e sentindo tudo isso
sem que o passageiro ao meu lado imagine...
talvez, aos olhos dele, o mais importante seja a garoa...

2 comments:

Unknown said...

Sempre me identifico com as suas poesias! Obrigada! Isso faz com que eu não me sinta tão só! Parabéns! Elas são lindas!

Francisco Guilherme said...

Oi Mari, obrigado pelo carinho de seu comentário. "Se tantas pessoas se setem sós, é egoísmo continuar sozinho" Tenesee Willians