13 January, 2006

LEMBRANÇA DOS DIAS

LEMBRANÇA DOS DIAS

Dias em que a neve que cai é mais um desperdício da vida.
Dias em que a chuva parece não arder tanto quanto o tempo.
Dias em que mesmo a esperança parece dormir no peito de quem ama.

Eu já tinha noção de que seria assim:
idéia exata que vão faltar lembranças
para todo o quadro que eu pintar.
Cores do amanhecer sobre minha janela.

(as tintas que uso se espalham sobre estradas nítidas,
caminhões sem forma que espalham lixo sobre os litorais)

O instante é que anda poluído de reuniões,
desencontros , informações mal geridas.
Eu apenas faço parte dessa roda que movimenta a vida,
caleidoscópio que extravasa.
Guardo todas as palavras no bolso,
as mais claras me enfeitarão...
Sou donatário de alguns semblantes,
de quimeras voláteis
com as quais sustento meu vício –
salvar os leões de prata
do zoológico que eu cultivei.

Tem dias em que esse meu surrealismo não dá conta das contradições.
Aí sim é que eu passo a ser normal
como um grito
entorpecendo o chão.