30 June, 2013

TEMPOS

O tic-tac do relógio ponteia
As horas mortas da noite.
O calendário, sempre tão preciso,
Indica o término do mês.
Sobre a mesa, cadernos lembram
Os compromissos que eu já deixei.

Ante a essa frágil certeza
Não há músculo capaz
De demover a pedra do tempo,
Nem alma que possa
Abstrair seus efeitos e negá-lo.

 Há somente essa constatação:
“A vida passa”. Passa pela gente
E nos modifica sem mover,
E nos move ao desconhecido,
As torres que aparecem na paisagem
E aquilo que a miragem revela.

Talvez sejamos isso mesmo: só poeira.
Ou talvez sejamos sempre sonho.
No fundo, é nossa noção de tempo
Que nos lembra o que somos.
Não fosse ela, certamente não saberíamos.

Construímos a vida em função dessas certezas
E morremos muitas vezes sem encontra-las,
Todavia – sem perceber – levamos conosco
A noção de tempo que desenvolvemos.