16 January, 2010

PARA MARLON BRANDO

PARA MARLON BRANDO

Sobre a face oculta dessa saudade sinto sua presença
pouco a pouco, brandamente como a noite
e os que chegam com ela: seus tipos, seus formatos.

A força dos seus sonhos nos derrubava com ternura
e mesmo sua brutalidade tinha algo de sublime,
que nos absorvia pelos olhos, nos levando pra dentro
da rua onde nossos pecados ficavam mais puros
diante dos seus.

Homem grande de vida confusa.
Homem confuso de alma tão plena.
Todos se viam em suas figuras
Mas a quem vias enquanto nos dominava?
A si mesmo? Aos medos? Sua mãe?
A quem vias quando seus olhos se fecharam?

Olhavas.
Simplesmente olhavas.
E isso bastava pra que houvesse poesia na dor.
Na dor intragável, por seus filhos em saga semelhante
á Abel e Caim.

Nos faria uma oferta irrecusável se não te amassemos tanto?
Nos faria em pedaços como o cavalo Cartum?
Que parte de sua alma nós seríamos se não nos ocupasse tanto sendo o que eras?

Estamos longe de sua atual moradia, separados por camadas de carne.
Mas sua lembrança nos dá a certeza de que estás em nós, refletindo nossa pequenez e nossa imensidão.
Somos apenas seus espectadores, famintos em uma ceia transitória.
Vens para jantar?
Vens ao menos para dizer que ninguém que te comanda?
Vens?

Antes de ti, eramos medo.
Mas agora que sabemos de teus pecados, somos esperança.
Esperança recorrente, projetada em nossas retinas como uma luz.
Uma luz intíma e primordial.