11 February, 2008

A TORRE

A TORRE

Cada dia mais, reparo o sumiço de uma torre de moinho.
Parece que tudo está se transformando.
Só vejo engrenagens roerem o luar,
levarem embora os sonhos dos amantes.

Parece que tudo está sendo transformado em ventania.
Os antigos abrigos não suportam mais o sol.
O sol mudou.
E sobre nós está um cinza
imperdoável.

Uma luta sem vencedores e retratos, apenas a abstração:
o que não foi e poderia, o que não é nem ficaria.

Eis que vejo o verde ser mudado...
Sobe uma fumaça confusa.
Pessoas achando que é o céu, olham calorosas a fusão
do tempo poluído
com a alma manchada, roída, moída.
Migalhas de um pão sem dono
que o progresso mordeu sem ver o gosto.

O tempo
costurou essa nova praxe nos homens: inconformar-se.
E, desde então, nem a luta foi mais igual ou menos violenta.
Mas certa, precisa, como um cálculo no sol;
uma semente no poente.

A luta foi a propagação dos sonhos
na estrada de uma paz estilizada,
onde mártires adormecem com suas liberdades
e destinos.