29 December, 2012

O FIM DE UM AMOR E DE UMA CASA

E esse amor cobra medidas
Exige ao menos
Uma difusa simetria,
Ao menos a rima inexata
Que ata, desata
Os astros e as tramas.

A cama lavada depois do coito.
Os lençóis ardendo no fogo
E as chamas fluindo pela manhã,
Arrastando nossa carne;
Criando fendas, fodas e feridas
Através das paisagens apagadas
Uma casa demolida, que guarda
Nossos restos, nossos fetos desfeitos.

E nossos peitos não se encontram mais.
Estamos no limiar do horizonte.
E o sol extravasa suas labaredas
Vamos nos queimar! Vamos nos queimar
Através da luminosidade da lua
Porque a noite é sombria sem nós,
Sem os nós que poderiam atar-nos:
As cordas de um violino, simulando
Um cordão umbilical.

E esse amor é como uma corda,
A coda de uma sinfonia.
Dois trechos que se imbricam
Ombro a ombro, entre atos.

Está contido, é e contem
A cama ardendo no fogo
Os lençóis lavados depois do coito.
Uma casa demolida, a carne desfeita
E os peitos desencontrados.