14 December, 2012

DESAPEGO

Desapegar, pegar abismos.
Soltar o vento.
Sentir que essa vida
É assim:
Uma perda constante
Um ganho provisório
Uma pedra implausível
Castelo de espumas.

Só é possível abandonar.
Só é possível abonar os outonos
E sofrer com os contrastes do labirinto

Ainda sim, desapegar.
Soltar aquilo em que se acredita
Em busca de uma essência
Que, talvez, nem haja;
Que, talvez, seja essa mesma:
Uma busca, uma música
Inútil, flor sem fundamento.

Soltar, deixar ir...E morrer
Vendo-se alijado, entregue
Aos porcos e às pérolas...

E castro meu coração
Arrasto os fatos para o destino,
Como um clandestino, um clã
Das eras idas, que sempre
Retornam quando se pensa
Que a civilização avançou

Um clã, uma lã
Que enforca
Todas as estradas que eu tenho
As que ainda me restam
O sobressalto de um grito sobressalente
O outono e seus túneis
Os tonéis da memória.

Desapegar,
Apegar aos desastres
Fazer deles uma foz de lágrimas
De lágrimas soltas
Um rio de nuances
Dança em meus pensamentos
Como um dardo obtuso
Uma asa sobre a primavera
Em ciclos, circunscritos á maré

Ciclos que se desapegam
Que se prendem sobre a neblina
(A tarde cai)
Os sinos do abismo
Estão em uma estrutura
Que se forja no rompimento de um músculo,
Uma veia, um vértice,
Um vulto.
Um ciclo constante de desapego
Sobre os pregos da Cruz.