26 April, 2006

O IMPROVÁVEL

O IMPROVÁVEL

O sol veste as flores,
as flores vestem o Dia,
o dia veste o erro
semeado no horizonte.

Pouco adianta plantar nuvens,
melhor é ser lançado pelas manhãs
e subir outros espaços que se invertem
mesmo que eu os mude.

Outras sementes plantadas,
outras maçãs colhidas,
um horizonte incompleto.

Mesmo que me escape a manhã e os percevejos,
meu olhar mantém o prumo
e convida o ultimo espelho a se dissolver.

TARDE

TARDE

Tarde ampla,
se debate com o meu olhar
e com a saudade de estar em casa
e nada fazer,
a não ser poemas.

Poder produzir
meu ócio e meu tempo
sem relógios ou obrigações.

Andar pelas ruas
e poder ter comigo essa paisagem:
transeuntes, casinhas e casarões.
Hotéis fuleiros, mercearias, catedrais
onde não se reza.
Poder ter a tarde ampla
e - a partir dela- flutuar em livros,
sebos e vinis.

Tarde ampla,
talvez se renove se eu sonhar,
se eu puder saber que além dela existe outra
e mais outra,
e mais outra...
E que, a partir de cada tarde,
surge uma manhã
e uma noite
que se aprofundam
com os olhos.

10 April, 2006

Dialética da Faca

Dialética da Faca

A faca existe enquanto dado do real,
sujeita a leitura que faço
do seu corte.
Existe ma minha mão,
que se insere no trabalho
e no tempo.

A faca existe não sendo,
passa a ser na medida
em que eu lhe atribuo um corte.
A faca não existe sendo,
passa a não ser quando ser
quando perde o corte:
atributo do valor que tem.

A faca existe como mais um critério
que escolho para a análise do real,
que se expressa na relação da faca
com seu corte sobre a maçã.

A faca existe sendo e não sendo,
não sendo e estando
nas minhas mãos,
não como objeto de estudo
mas como estudo de objeto.

A faca é a faca ou a idéia que dela faço?
A idéia que faço da faca se materializa em sue corte?
Ou a idéia que faço do corte surge da faca que se materializa?
A faca existe pela necessidade do corte,
pela necessidade das mãos em estudar
a lâmina e afiar faca
e o seu corte.