28 February, 2013

CANÇÃO ENSOLARADA


As nuvens se abriram, apareceu o sol.
A paisagem trouxe seus primeiros indícios de verão
no final de Fevereiro.

Minhas lágrimas secaram
E eu sorri como se houvesse um sonho.
Eu sorri de uma tal maneira que até as ruas
ficaram vermelhas.

Tive certeza, lembrei de que alguém me amou
mesmo que surdamente
ou da maneira mais absurda.

23 February, 2013

A MÁSCARA DA COMPOSIÇÃO


uma torrente descontínua de palavras se descortina diante de mim.

novas fronteiras se abrem, descubro que o mundo futuro
vive guardado em gavetas de repartição, que dividem o sonho
em "Antes" e "Depois" das  palavras...

sei que o nome está em tudo, definindo formas;
estabelecendo jardins em tardes de Abril obsoletas

o que vinha antes era um gruinhido disforme
das raças que ainda não conheciam o verbo.

depois, veio o dilema:

entregar ou não o calor das palavras
aos mortais fora do Olímpo, ou conservar na tocha
o segredo dos deuses diletantes?

a poesia respondeu esse dilema,
pagando o destino de um Prometeu...

13 February, 2013

TÊNUE É A DISTÂNCIA


Tênue é a distância
Entre meus lábios e seu paladar,
Entre as estrelas e as estradas,
Entre os olhos e a montanha,
Entre a sombra e o abismo.

Tênue é a distância
Entre o princípio e o adeus,
Entre o riso e a morte,
Entre a morte e o norte.

Tênue é a distância
De um ponto a outro do hemisfério,
De um hemisfério ao outro,
Do outro até mim,
De mim para o mundo,
Do mundo para o tempo,
Do tempo dentro de tudo.

Tênue, tênue, tênue
É o tempo. É o verme.
É a noite sobre a cidade.
É o concreto, é o sal.
E o sonho. O que se constrói
E o que flui.

E, sendo tênue, que se tenha
Tino. E, sendo tênue, que se detenha
Na alma,
Como um vestígio,
Uma estrofe. 

02 February, 2013

PARA ATRAVESSAR A VERTIGEM


é preciso abandonar os espasmos
atravessar a linha do amor
e as reticências,
bater em retirada
quando se sente a doença
sobre a pele,

quando se sabe
que é preciso amanhecer de novo;

amanhecer sobre a vertigem
da carne,
do espelho,
da sombra,

amanhecer por completo
sobre as asas da alma,

é preciso atravessar a vertigem
e reconhecer a água das horas,
que corre,
que escorre,
entre as flores de cobre
e de sal,

só assim é que se chega
à plena condição
de homem
sobre o amor.