07 September, 2013

GAROA



pela janela do trem
observo a garoa,
recordação distante de mim mesmo;
do quanto estou só e ninguém sabe,
do quanto eu já chorei e ninguém notou...

eu sempre levava comigo essa culpa:
não saber amar como os gregos amavam a sabedoria,
hoje eu sei (e isso aprendi olhando a garoa)
que saber amar é paz madura
e eu ainda preciso me despojar
para chegar até mim mesmo,
no esmo da noite ou do dia.

eis que meu peito silencia
quando constato essa etapa em que me encontro
sirvo-me do amor e da procura
e aguardo, passivamente, a tempestade...
possivelmente ela virá
em minhas lembranças ou sobre as retinas,
sobre as úmidas retinas
do espelho, que reproduzem a miragem desse amor,
desse amor triste e condicional
(como certos tipos de liberdade segundo a justiça)

e eis que vejo pensando e sentindo tudo isso
sem que o passageiro ao meu lado imagine...
talvez, aos olhos dele, o mais importante seja a garoa...