OS SONHOS QUE PERMANECEM

Dizem que na vida tudo passa

Só os sonhos permanecem,

São retratos do legado que deixamos

Respostas das perguntas que fazemos.

Dizem que a vida é sonho

Estou convicto dessa opinião

Um dia hei de acordar e perceber

Que os sonhos sempre permanecem

Em minha vida, nas coisas que eu faço

E nas que vou fazer; no ódio, no amor.

Dizem que no sonho tudo passa

Só a vida permanece

É um retrato do legado que perdemos

Um silêncio de abismo e de morte

Que passa pela gente, entre os sonhos.

CONSTATAÇÕES

No peito aquela flecha.

Na alma, aquela dor.

É a tarde que se fecha,

É a morte do amor.

A VIDA NÃO ACABA HOJE

A vida não acaba hoje,
talvez amanhã.

Eu amarei e chorarei
o bastante, ainda será pouco.
Não sei onde a vida acaba.

Seja onde for,

eu me depararei
com incertezas e percalços,

andarei descalço
em estradas que não conheço.

Talvez hoje.

Talvez amanhã.

Sei que é preciso pedir perdão

E tentar recomeçar solitariamente
Mas a vida não acaba hoje.
Se eu não puder recomeçar,
Tem sempre outro dia.
Dizem até que há outra vida
Só não posso afirmar.

Eu amarei e chorarei

o bastante, ainda será pouco.
E as lágrimas certamente serão breves,
espumas leves em um chão daninho.

Chão que amanhece

sobre as mortalhas,
sobre as migalhas.

A vida, eu sei, não acaba hoje.

Ela continua, nua e aberta,
Pronta para receber elementos,
Se alimentar do que somos e queremos.

ESTOU DISPOSTO A ENFRENTAR A TEMPESTADE

Estou disposto a enfrentar a tempestade,
a olhar por dentro dos olhos
e descobrir a claridade da manhã.

A noite gira em falso

e as estrelas morrem rapidamente,
eu vislumbro apenas a manhã;
a manhã dos vermes e dos minerais.

A rua se move por baixo da noite,
e a tempestade chega.
Resta-nos a mensagem que ela traz de longe,
resta-nos a origem e a distância;

apenas o amor procria margens

no subsolo amarelo do espelho,
não há escapatória para as sombras,
há somente a lua escapando entre as vielas,

há ratos de lixo nos bueiros
e os postes são de amianto.

Estou disposto a enfrentar a tempestade,

entretanto a tempestade não se apronta.
Preciso tirá-la de mim, se quero realmente enfrenta-la,
preciso recriá-la como maré, ave ou lua,
preciso recriá-la para, enfim, tirar de mim o que ela não é.

A noite gira em falso, caí de algum prédio no horizonte,

mas só eu vejo a caindo a conta-gotas, gota a gota;
em rota similar a um descongestionante.

A rua se move por baixo da noite,

como pernas de medusa entre os lençóis,
lençóis que abafam a tempestade,
quando não se afirma a morte do amor,

o amor e suas margens

me atravessam,
sou espelho do que eles escondem
e, através das vielas, sigo a lua
nas estradas de ratos e amianto.

O QUE APRENDER COM AS ÁGUAS

Aprendamos com as águas:

A nascer do alto e descer,

A ser transparentes sem amargura,
A correr sabendo e se ajustando ás curvas,
A mudar de forma sem perder a essência,

entender que não é a força, mas a paciência,

que quebra as rochas mais duras,

saber que existem outras águas

e que é impossível  não se misturar.
Todas se encontram em algum momento
seja em outros rios ou no mar.

Aprendamos com as águas

que há uma dinâmica na vida:
evaporar, precipitar, e seguir;
seguir, evaporar e precipitar.

RETRIBUIÇÃO AO MUNDO

Só Deus sabe o quanto eu luto

por esse mundo, sem saber se vou ver
os frutos, se outros vão colher
os louros que plantei

Pra mim, contudo, pouco importa

o louro ou o fruto em minhas mãos
importa o que eu luto: o mundo,
isso, de alguma maneira, sei que ganhei.
Mereci. Lutar, então é uma forma
(talvez) pequena de retribuir...

O AMOR E A LUTA

como dois ângulos diretos,

amor e luta se dispõem...

remo em direção ao desconhecido para encontrá-los

outrora a jornada era simples,

lembro-me como se fosse ontem:
imitei, sem perceber, os passos que me seguiam

nenhum deles  me orientou na luta (no amor)...

antevi os conflitos do meu peito...

perdi meus sonhos dentro deles...

e hoje não me lembro do outono

tênue como as linhas de um desenho;

então me coloquei entre os contrastes da luta e do amor,

remando em direção a mim mesmo para encontra-los,
sublimando os estragos do conflito...