18 July, 2013

ESTOU DISPOSTO A ENFRENTAR A TEMPESTADE

Estou disposto a enfrentar a tempestade,
a olhar por dentro dos olhos
e descobrir a claridade da manhã.

A noite gira em falso
e as estrelas morrem rapidamente,
eu vislumbro apenas a manhã;
a manhã dos vermes e dos minerais.

A rua se move por baixo da noite,
e a tempestade chega.
Resta-nos a mensagem que ela traz de longe,
resta-nos a origem e a distância;

apenas o amor procria margens
no subsolo amarelo do espelho,
não há escapatória para as sombras,
há somente a lua escapando entre as vielas,

há ratos de lixo nos bueiros
e os postes são de amianto.

Estou disposto a enfrentar a tempestade,
entretanto a tempestade não se apronta.
Preciso tirá-la de mim, se quero realmente enfrenta-la,
preciso recriá-la como maré, ave ou lua,
preciso recriá-la para, enfim, tirar de mim o que ela não é.

A noite gira em falso, caí de algum prédio no horizonte,
mas só eu vejo a caindo a conta-gotas, gota a gota;
em rota similar a um descongestionante.

A rua se move por baixo da noite,
como pernas de medusa entre os lençóis,
lençóis que abafam a tempestade,
quando não se afirma a morte do amor,

o amor e suas margens
me atravessam,
sou espelho do que eles escondem
e, através das vielas, sigo a lua
nas estradas de ratos e amianto.