06 October, 2006

DUAS MÃOS QUANDO SE ENCONTRAM

DUAS MÃOS QUANDO SE ENCONTRAM

Juntos podemos
simplesmente mudar um jardim;
colocar novos canteiros
e plantar outras flores,
flores de esperança.

Podemos dançar a música das horas,
narrar o amanhecer aos que virão.

Sobre o momento,
podemos transformar a luz da manhã
em herança dos olhos.
E tornar essa luz
um farol para a cidade,
mesmo para aquelas
que não conhecemos.

Assim atuam
duas mãos quando se encontram,
seja num enlace de amor
ou quando libertam
as mãos de outros,
que são oprimidos.

Juntos também podemos
libertar os pássaros da noite.
Até mesmo os pensamentos que escapam.

13 July, 2006

ALENTO

ALENTO

Um sorriso esparso.
Beijo, amor, fotografia:
um nome na parede.

Lembrança amiga
no peito flutuante:
sombra sóbria.

Olhar antigo
e o rosto conformado;
e a noite diferente.

26 April, 2006

O IMPROVÁVEL

O IMPROVÁVEL

O sol veste as flores,
as flores vestem o Dia,
o dia veste o erro
semeado no horizonte.

Pouco adianta plantar nuvens,
melhor é ser lançado pelas manhãs
e subir outros espaços que se invertem
mesmo que eu os mude.

Outras sementes plantadas,
outras maçãs colhidas,
um horizonte incompleto.

Mesmo que me escape a manhã e os percevejos,
meu olhar mantém o prumo
e convida o ultimo espelho a se dissolver.

TARDE

TARDE

Tarde ampla,
se debate com o meu olhar
e com a saudade de estar em casa
e nada fazer,
a não ser poemas.

Poder produzir
meu ócio e meu tempo
sem relógios ou obrigações.

Andar pelas ruas
e poder ter comigo essa paisagem:
transeuntes, casinhas e casarões.
Hotéis fuleiros, mercearias, catedrais
onde não se reza.
Poder ter a tarde ampla
e - a partir dela- flutuar em livros,
sebos e vinis.

Tarde ampla,
talvez se renove se eu sonhar,
se eu puder saber que além dela existe outra
e mais outra,
e mais outra...
E que, a partir de cada tarde,
surge uma manhã
e uma noite
que se aprofundam
com os olhos.

10 April, 2006

Dialética da Faca

Dialética da Faca

A faca existe enquanto dado do real,
sujeita a leitura que faço
do seu corte.
Existe ma minha mão,
que se insere no trabalho
e no tempo.

A faca existe não sendo,
passa a ser na medida
em que eu lhe atribuo um corte.
A faca não existe sendo,
passa a não ser quando ser
quando perde o corte:
atributo do valor que tem.

A faca existe como mais um critério
que escolho para a análise do real,
que se expressa na relação da faca
com seu corte sobre a maçã.

A faca existe sendo e não sendo,
não sendo e estando
nas minhas mãos,
não como objeto de estudo
mas como estudo de objeto.

A faca é a faca ou a idéia que dela faço?
A idéia que faço da faca se materializa em sue corte?
Ou a idéia que faço do corte surge da faca que se materializa?
A faca existe pela necessidade do corte,
pela necessidade das mãos em estudar
a lâmina e afiar faca
e o seu corte.

31 March, 2006

A DÚVIDA

A DÚVIDA

Não consigo atravessar o silêncio e expor a alma ao convívio.
O ventre aberto do tempo mede cada passo meu e eu não posso recusar este pedido: retidão.
Principalmente quando tudo aqui fora explode em tumulto.

Abreviar a jornada do pensamento e poder dormir...
Abreviar, com doses de certeza, a dúvida e as flores do olhar.
Poder ter calma, principalmente quando o caminho se desfez.
E os pés ainda estão lá, marchando e renascendo...

Sempre, e com mais força, dissolver o labirinto incólume do engano.
Poder expor -sereno e justo- o olhar, mesmo que a paisagem suma.
E, entre uma e outra lua, poder amanhecer os olhos.
E acordar com estrelas dentro dele.

28 March, 2006

NOS DIAS FRIOS

NOS DIAS FRIOS

Comum nos dias frios,
a solidão me bate a porta
quando
estou absolutamente
acompanhado.

Embevecido com as luzes da cidade,
estremeço só de pensar
que o caminho
ainda não se completou.

Os homens não se libertaram
Os mais velhos preferem dormir.
Os mais novos já não sonham.
Preferem dormir.

Voam sobre o céu de chumbo
as águias e os crimes,
sobre a sombra do mar
voam cidades
e homens como eu:
absolutamente acompanhados.

Já mudados pela cidade,
eu e esses homens
voltamos aos antigos casebres
que consumiam as paisagens do olhar
nos dias frios,
que ainda não se completam.

Eu e esses homens voltamos ao caminho
(que não se completa)andando com o tempo,
criando paisagens que nos voltam.

23 March, 2006

ATMOSFERA

ATMOSFERA

Eu só me lembro que levantei...
O susto foi tamanho que eu nem abri os olhos. Não sabia se haviam nuvens ou cidades me rodeando. Eu só me lembro que levantei assustado e embevecido com os barulhos que vinham de fora, de longe da cidade que eu não via. O som de nuvens se roçando, das partículas de água na vidraça. A violência desses elementos me fazia pensar profundamente sobre a natureza: tanto a que estava na vidraça, como a que eu ouvia lá fora em forma de pequenas gotas.
Eu só me lembro que, ao abrir os olhos, pude notar que o ambiente ao meu entorno era outro. Tudo havia se convertido em esfera, em círculos amplos e vazios que se encontravam. Eu girava num espaço que Newton não reconheceu, que a Geografia não presenciou. Mas, ao mesmo tempo, tudo ao meu redor se opunha á esse ritmo...Não, eu não podia mensurar as velocidades, estabelecer qualquer raciocínio sobre as formas. Tudo estava tão perto e escondido - as formas passadas eram conceitos indigestos que talvez não figurariam em um dicionário.
Era estranho o modo como as coisas ocorriam: uma simples chuva na janela me levou para outra estrutura, menos rígida e tácita que essa. Pude ver que o crescimento das coisas era muito mais vontade do que biologia. A chuva aumentava mais por seu anseio em expandir do que simplesmente pelo choque de nuvens que a originava. Com isso, revi meus pensadores. Notei que eles diziam essas coisas para que eu mudasse, para que eu botasse pra fora de mim o dragão adormecido, o leão que conquistava a presa pelos olhos.
Então chovi. Chovi com a mesma vontade das plantas que cresciam no meu jardim e na memória. Chovi sobre a cidade, um dilúvio sem precedentes se originou. No fim, eu acabei chovendo sobre minha janela depois de ter levantado de olhos fechados.

14 March, 2006

LÁGRIMAS DA ALMA

LÁGRIMAS DA ALMA

Hei de voltar a mim, olhar no espelho
e ver que os olhos não choram
e o coração não pulsa
a mesma sinfonia de outrora.

Hei de voltar a mim e sentir de novo
a penetração da flecha,
o ruído tácito das lágrimas;
das lágrimas da alma.

Hei de sentir em mim a mesma dor-
absurda e séria -do passado.
Chorarei igual a um violão,
que toca as tristes notas de um tempo.

E assim, somente assim, poderei
dizer que o amor é cego;
pois ele não me alcança
mesmo quando eu me aproximo.

03 March, 2006

HORIZONTE MUDADO

HORIZONTE MUDADO

O horizonte brota do meio da vida e consome cada pedaço do olhar. Tento dividi-lo com a calma e a pressa de qualquer manhã, apenas para ter certeza de que não o perdi. Com os olhos esparsos e a cabeça tímida sigo a olhá-lo. Subitamente, ele enegrece. Vejo que nele pequenas manchas se fundem, em contornos e formas completamente absurdos.
Sobre ele surgem experiências, fluídos e distorções projetadas.O rastro lúcido de seu aparecimento dissolve-se num emaranhado de formas que já se misturam ao meu dia. Prédios, áreas alugadas, vertentes de um morro. Cada coisa junta-se á minha memória e faz com que eu respire o tumulto urbano, povoador óbvio do horizonte.
Talvez eu perca de vista qualquer detalhe desses, tamanhas são as elucubrações que se pode tentar. Muito embora o rastro do horizonte ainda esteja em mim, eu não posso assimilá-lo como se assimila uma dor ou um beijo. Posso sim, tentar olhar por fora e por dentro do que ele me revela e absorver a última gota de certeza que ele exala. Assim, ele voltaria a mim na sua forma mais sincera: a lembrança do que nunca foi.

01 March, 2006

TERRÍTORIO AFÁVEL

TERRÍTORIO AFÁVEL

Você me observa
com seus olhos claros
só pra saber se estou vivo.
Pois bem, eis aqui:
sonhos em riste,
cabelo armado de idéias
prontas pra te derreter.
Consumir seus olhos e
deixar dentro deles
uma semente de fuga,
uma placa dizendo:
território sob meu domínio,
propriedade da noite
e dos instintos.

O AMOR FUNCIONA

O AMOR FUNCIONA

Eu grito com a vida :
quero amá-la,
mas não temo sua sorte,
seu rosto velado
sobre a manhã.
Isso prova que o amor funciona
como um susto,
uma vértebra da alma.
O amor funciona
como uma voz
para esse meu silêncio.

14 February, 2006

EXPERIMENTANDO A SINESTESIA DO JAZZ

EXPERIMENTANDO A SINESTESIA DO JAZZ

Meus olhos
A jazz band
Fragmento incerto e consoante,
Golpes de açúcar e chá

A jazz band
Calor ou cume da noite,
Bandeja, estrada ou mesa.
Sem haver filosofia.
Apenas o sal dessas canções
Tempera a têmpera
Elétrica,
Tornando flagrante o despreparo e a inconsistência da lua:
Ritmo de jazz sobre o cosmo
(bailando entre uma e outra ausência,
entre perturbações)

É impossível não se descobrir entre os arranjos,
Tornar-se sinfonia: metade corda, metade trompa.
Sou a música, a fumaça e o jazz.
As leis da física revogadas: espaço? Tempo?
Dois corpos que o ocupam?
A música
A morte.

Dois corpos que bóiam: a morte e o jazz,
O sal e o som que algumas vozes
Tentam prender, e outras procuram inspirar

Meus olhos.
O jazz.
A opaca luz que me esconde
Sou a banda e fluo com ela
Para a luz vermelha de um sonho
Dois corpos que bóiam:
O jazz e a paz vermelha desses litorais,
Antiga casa do interior.
1930,
ainda não nasci mas já converso com os instintos,
com o ritmo de Bourbon e de Coltrane,
Tomo um café e ouço o amanhã:
Entre o algodão e um charuto
1930,
ainda não nasci e já sou um charuto,
um jazz e a banda que escuto até hoje,
entre uns cafés.

30 January, 2006

MAR-RITMO

MAR-RITMO

As últimas mensagens do tempo chegam em garrafas, boiando no oceano.
E avisam que o mundo ainda é real.
As respostas que antes sabíamos
hoje parecem dúvidas
naufragadas na memória.
O mar inconsistente de nossas verdades
leva para longe essas respostas,
fazendo-as boiar.

26 January, 2006

EU GOSTO DELA

EU GOSTO DELA

O relógio pulsa na parede ao ritmo do amor.
Tanto tempo de espera e de canções sem rumo.
Tanto tempo entre as estrelas, entre uma manhã e outra.
Estou alegre por senti-la em mim.
Porque ela cintila em mim.
E eu?
Eu gosto dela.
E essa verdade estampa os meus olhos.

O ruído vem lá de longe, o ruído quase não vem.
Eu ouço, eu ouço e eu amo.
É a voz dela que vem.
Estou alegre por ouvi-la assim.
Estou alegre por que a ouço em mim
Como uma certeza.
Eu gosto dela.
E essa certeza me traz canções.
E essa certeza me faz dormir.

17 January, 2006

PERTO DA PAZ

PERTO DA PAZ

Outro amanhecer nas linhas do tempo,
outra passagem para o mar.
Logo,outros elementos da vida estarão perto,
ao alcance da memória.
Perto da paz.

Eu vejo Deus na chuva inédita da noite,
movimentando o ar.
Bem perto do momento.
Certezas como essa virão
do mais profundo e cálido horizonte.
Perto da paz, entre os faróis.

Eu vejo, entre os faróis,
a vida pedir pressa...a pressa pedir paz.

O milagre de estar vivo é pulsar outras certezas que,
mesmo a fome, não pode levar.
Certezas como as do horizonte,
que moram tão perto.
Perto da paz.

Sobre essa montanha,
sobre as paredes do tempo,
mora a memória ...
perto da paz,
da paz desses faróis,
da pressa dessa paz.

CANÇÃO SOLITÁRIA

CANÇÃO SOLITÁRIA

Velhos sonhos sobre a mesa do café.
Uma estrada em mil pedaços sobre a minha cama.
Nada traz as certezas que quero ou as verdades que preciso.
Apenas as paredes brancas do meu quarto sabem que estou só.
Sabem do meu passado
e da vergonha que eu sinto só de lembrar que estou só.

13 January, 2006

LEMBRANÇA DOS DIAS

LEMBRANÇA DOS DIAS

Dias em que a neve que cai é mais um desperdício da vida.
Dias em que a chuva parece não arder tanto quanto o tempo.
Dias em que mesmo a esperança parece dormir no peito de quem ama.

Eu já tinha noção de que seria assim:
idéia exata que vão faltar lembranças
para todo o quadro que eu pintar.
Cores do amanhecer sobre minha janela.

(as tintas que uso se espalham sobre estradas nítidas,
caminhões sem forma que espalham lixo sobre os litorais)

O instante é que anda poluído de reuniões,
desencontros , informações mal geridas.
Eu apenas faço parte dessa roda que movimenta a vida,
caleidoscópio que extravasa.
Guardo todas as palavras no bolso,
as mais claras me enfeitarão...
Sou donatário de alguns semblantes,
de quimeras voláteis
com as quais sustento meu vício –
salvar os leões de prata
do zoológico que eu cultivei.

Tem dias em que esse meu surrealismo não dá conta das contradições.
Aí sim é que eu passo a ser normal
como um grito
entorpecendo o chão.

12 January, 2006

ESQUECENDO ESTRELAS

AI VAI O PRIMEIRO POEMA, CHAMA-SE ESQUECENDO ESTRELAS:

Chuva intermitente sobre a cidade,
chuva interminável em meus olhos.

Saio por aí respirando um tema
e tamborilando um samba.
Caminhando sem rumo ou certeza
pela selva de bronze.
Sou um vago e inerte ser,
em busca de qualquer felicidade
ao Sul do Equador
e dos momentos.

A noite me arrasta e eu vou
até o extremo dos meus sonhos.
O dia me arrasta e eu vou, sinteticamente,
guardando suas cores em meus olhos.
Passeando de trem pelas idéias
que se bifurcam no horizonte
da cidade extrema.
(Extremamente externa,
eternamente extrema.)

Vou por esse trem, viajando e vagando,
esquecendo estrelas...



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MAIS UMA VEZ...

HOJE UE COMEÇO OUTRO BLOG, DESSA VEZ UM COM POESIAS, ACHO QUE AGORA VAI.