03 March, 2006

HORIZONTE MUDADO

HORIZONTE MUDADO

O horizonte brota do meio da vida e consome cada pedaço do olhar. Tento dividi-lo com a calma e a pressa de qualquer manhã, apenas para ter certeza de que não o perdi. Com os olhos esparsos e a cabeça tímida sigo a olhá-lo. Subitamente, ele enegrece. Vejo que nele pequenas manchas se fundem, em contornos e formas completamente absurdos.
Sobre ele surgem experiências, fluídos e distorções projetadas.O rastro lúcido de seu aparecimento dissolve-se num emaranhado de formas que já se misturam ao meu dia. Prédios, áreas alugadas, vertentes de um morro. Cada coisa junta-se á minha memória e faz com que eu respire o tumulto urbano, povoador óbvio do horizonte.
Talvez eu perca de vista qualquer detalhe desses, tamanhas são as elucubrações que se pode tentar. Muito embora o rastro do horizonte ainda esteja em mim, eu não posso assimilá-lo como se assimila uma dor ou um beijo. Posso sim, tentar olhar por fora e por dentro do que ele me revela e absorver a última gota de certeza que ele exala. Assim, ele voltaria a mim na sua forma mais sincera: a lembrança do que nunca foi.