30 September, 2013

SEGUNDA CICATRIZ DA PRIMAVERA



A primavera costura
sua primeira rosa,
através das rotas
de um sonho, 

a vejo chegar e partir
com a mesma precisão
de aliança, em casamento
com as horas da alma,

pelas portas, pelas janelas,
sobre a pele, entre os pelos,
a vejo fluir (duramente)
como água que não se conhece.

Eis que adentro meu sonho
e nele sinto a primavera,
tudo o que haveria nela,
se eu não fosse o que sou.

E tudo o que haveria em mim
se, um dia, eu pudesse
ser essa primavera fria
que, entre lama e asfalto, se aloja.

24 September, 2013

CICATRIZ DA PRIMAVERA



De repente, olho um quadro cheio de flores...

Me lembro que é primavera
Meus sentidos florescem e eu escrevo
As palavras que brotam são mais profundas,
Pois revelam que as primaveras também passam,
Passam deixando na gente um rastro de flor
Um rastro que se alastra em feixes
De sombra e de luz....

07 September, 2013

GAROA



pela janela do trem
observo a garoa,
recordação distante de mim mesmo;
do quanto estou só e ninguém sabe,
do quanto eu já chorei e ninguém notou...

eu sempre levava comigo essa culpa:
não saber amar como os gregos amavam a sabedoria,
hoje eu sei (e isso aprendi olhando a garoa)
que saber amar é paz madura
e eu ainda preciso me despojar
para chegar até mim mesmo,
no esmo da noite ou do dia.

eis que meu peito silencia
quando constato essa etapa em que me encontro
sirvo-me do amor e da procura
e aguardo, passivamente, a tempestade...
possivelmente ela virá
em minhas lembranças ou sobre as retinas,
sobre as úmidas retinas
do espelho, que reproduzem a miragem desse amor,
desse amor triste e condicional
(como certos tipos de liberdade segundo a justiça)

e eis que vejo pensando e sentindo tudo isso
sem que o passageiro ao meu lado imagine...
talvez, aos olhos dele, o mais importante seja a garoa...