23 March, 2006

ATMOSFERA

ATMOSFERA

Eu só me lembro que levantei...
O susto foi tamanho que eu nem abri os olhos. Não sabia se haviam nuvens ou cidades me rodeando. Eu só me lembro que levantei assustado e embevecido com os barulhos que vinham de fora, de longe da cidade que eu não via. O som de nuvens se roçando, das partículas de água na vidraça. A violência desses elementos me fazia pensar profundamente sobre a natureza: tanto a que estava na vidraça, como a que eu ouvia lá fora em forma de pequenas gotas.
Eu só me lembro que, ao abrir os olhos, pude notar que o ambiente ao meu entorno era outro. Tudo havia se convertido em esfera, em círculos amplos e vazios que se encontravam. Eu girava num espaço que Newton não reconheceu, que a Geografia não presenciou. Mas, ao mesmo tempo, tudo ao meu redor se opunha á esse ritmo...Não, eu não podia mensurar as velocidades, estabelecer qualquer raciocínio sobre as formas. Tudo estava tão perto e escondido - as formas passadas eram conceitos indigestos que talvez não figurariam em um dicionário.
Era estranho o modo como as coisas ocorriam: uma simples chuva na janela me levou para outra estrutura, menos rígida e tácita que essa. Pude ver que o crescimento das coisas era muito mais vontade do que biologia. A chuva aumentava mais por seu anseio em expandir do que simplesmente pelo choque de nuvens que a originava. Com isso, revi meus pensadores. Notei que eles diziam essas coisas para que eu mudasse, para que eu botasse pra fora de mim o dragão adormecido, o leão que conquistava a presa pelos olhos.
Então chovi. Chovi com a mesma vontade das plantas que cresciam no meu jardim e na memória. Chovi sobre a cidade, um dilúvio sem precedentes se originou. No fim, eu acabei chovendo sobre minha janela depois de ter levantado de olhos fechados.

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