As horas mortas da noite.
O calendário, sempre tão preciso,
Indica o término do mês.
Sobre a mesa, cadernos lembram
Os compromissos que eu já deixei.
Ante
a essa frágil certeza
Não
há músculo capaz
De
demover a pedra do tempo,Nem alma que possa
Abstrair seus efeitos e negá-lo.
“A
vida passa”. Passa pela gente
E
nos modifica sem mover,E nos move ao desconhecido,
As torres que aparecem na paisagem
E aquilo que a miragem revela.
Talvez
sejamos isso mesmo: só poeira.
Ou
talvez sejamos sempre sonho.No fundo, é nossa noção de tempo
Que nos lembra o que somos.
Não fosse ela, certamente não saberíamos.
Construímos
a vida em função dessas certezas
E
morremos muitas vezes sem encontra-las,Todavia – sem perceber – levamos conosco
A noção de tempo que desenvolvemos.
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