07 December, 2012

A CURVA (Canção provisória à Oscar Niemeyer)

não houve curvas que
sustentassem
teu leito, tua alma
s
i
n
u
o s a,
monumento ao sonho
de um povo;
às curvas
das mulheres da praia;
às montanhas do Rio, que
cintilavam sobre a oblíqua fumaça
do seu charuto;
tudo aquilo que gostavas...
que gostamos, pois és um de nós....

em seus últimos instantes
dizem, ainda pensavas em projetos
(querias estender a vida
através deles?)

talvez soubesses
que nós te perderíamos
antes do necessário...
por isso,
penso eu, combinavas com o Criador
(mesmo não acreditando nele)
um monumento,
um contrato para outras
obras...
para um mundo justo,
que não podes ver.

Contudo, não penses
que deixaste obra incompleta;
deixaste apenas obras
que vislumbram um Brasil
que se interrompeu,
mas,
    sobre o qual,
por confuso que pareça,
nutrias esperança
que, alguns de nós
  • mesmo os fortes -
    não conseguimos ter

sua principal obra
(a derradeira)
construiu-se ao longo de semanas
em um leito branco
(como tantos de seus monumentos)
de hospital:
esperança, uma frágil
escultura,
a ser moldada diariamente
com os entulhos
da contradição

1 comment:

Eduardo Carraro said...

Muito bom.

Gostei da construção, Chicão!